quarta-feira, 27 de julho de 2011

A princesa ladrona, versão de Monteiro Lobato



Olá!
Gostei muito desta história, que li no Histórias de Tia Nastácia.
A bela figura acima eu tirei do website http://paulicasantos.wordpress.com/2009/11/19/menina-e-passaro/ - que acessei hoje 27 de julho de 2011



Havia um pai com três filhos: um plantou um pé de laranjeira, outro plantou um pé de limeira e outro plantou um pé de limoeiro. Certo dia, o mais velho foi ter com o pai e disse:
-- Meu pai, já estou homem feito e quero sair pelo mundo.
O pai achou que era ainda cedo, mas o moço tanto insistiu que ele teve de concordar. E então disse:
-- Pois saia, mas antes deve resolver se quer levar minha bênção com pouco dinheiro ou minha maldição com muito dinheiro.
O moço quis maldição com  muito dinheiro – e o pai o amaldiçoou, depois de dar-lhe um saco de dinheiro. Antes de partir, esse moço disse aos irmãos que quando a sua laranjeira começasse a murchar isso era sinal de que se achava em grandes apuros – e eles que fossem socorrê-lo.
Combinado esse ponto, o moço partiu. Andou, andou, andou, e por fim, já muito cansado, viu uma fumaça ao longe. Encaminhou-se para lá. Era um palácio. A dona do palácio era uma princesa que o recebeu com grandes amabilidades. Jantou com ele e depois convidou-o a um passeio na horta. Ao atravessar um riacho, a princesa ladrona ergueu o vestido de modo a mostrar o pé, e depois que voltaram à sala perguntou ao moço que é que havia visto de  mais lindo na horta.
-- As couves – respondeu o moço.
A princesa mordeu os lábios e convidou-o para um joguinho – e num instante ganhou todo o dinheiro que ele trazia. Depois disso mandou que seus criados o prendessem e só lhe dessem couve para comer.
Logo que anoiteceu, lá em casa do pai do moço a laranjeira começou a murchar. O irmão do meio, vendo aquilo, foi ter com o pai e disse:
-- Meu irmão está em grandes apuros e eu vou correr mundo para socorrê-lo.
O pai concordou e perguntou o que ele queria: bênção com pouco dinheiro ou maldição com muito dinheiro. Esse moço também preferiu maldição com muito dinheiro – e o pai o amaldiçoou, depois de lhe dar um saco de dinheiro – e ele lá se foi.
Andou, andou, andou até sentir-se exausto, e nesse momento viu ao longe uma fumaça. Encaminhou-se para lá. Era o palácio da princesa ladrona. A princesa recebeu-o com as amabilidades de sempre e depois do jantar levou-o a passeio pela horta. Ao atravessar o riozinho mostrou o pé, e ao voltarem à sala fez-lhe a mesma pergunta:
-- Então, o que mais apreciou na minha horta?
-- As alfaces – respondeu o moço.
A princesa pensou consigo que aquele era igualzinho ao outro: convidou-o para jogar, ganhou-lhe todo o dinheiro e o mandou prender, com ordem de só lhe darem alface.
Assim que isso aconteceu, lá na casa do pai do moço a limeira começou a murchar. O terceiro filho foi ter com o pai.
-- Pai, quero sair pelo mundo em socorro dos meus irmãos; a laranjeira e a limeira estão dando sinal do grande perigo que eles correm.
-- Pois vá – respondeu o pai – mas antes terá de decidir se quer minha bênção com pouco dinheiro ou minha maldição com muito dinheiro.
-- Meu pai – respondeu o moço – quero sua bênção com pouco dinheiro.
O pai abençoou-o e ele partiu. Bem longe dali encontrou uma velhinha, que era Nossa Senhora disfarçada.
-- Para onde vai,  meu filho?
-- Vou pelo mundo ganhar a vida e procurar meus irmãos – respondeu o moço.
A velhinha deu-lhe uma toalha, dizendo:
-- Quando tiver fome, meu filho, pegue esta toalha e diga: “Põe a mesa, toalha!” – e um banquete aparecerá.
Deu-lhe também uma bolsa dizendo: “Esta bolsa faz o mesmo que a toalha.” E deu-lhe uma violinha dizendo: “Se perder a toalha e a bolsa, basta tocar nesta violinha que não sentirá fome, nem privação de nada.”
O moço agradeceu os presentes e lá se foi pela estrada afora. Chegou afinal ao palácio da princesa ladrona, onde bateu e foi recebido com grandes amabilidades. Depois do jantar houve o tal passeio pela horta, tudo exatinho como havia acontecido com os seus dois irmãos. De volta do passeio a princesa perguntou o que mais ele tinha apreciado.
-- O lindo pé da senhora princesa – respondeu o moço gentilmente.
A princesa sorriu, como quem diz: Este me serve. Em seguida convidou-o para jogar e no jogo limpou-o do pouco dinheiro que ele trazia. E também mandou que o prendessem junto com os demais.
Lá pela tarde chegou a hora de dar comda aos presos, e uma preta apareceu diante das grades com um prato de couves.
-- Muito obrigado – disse o moço – Diga a sua senhora que não preciso de nada disso – E estendendo a toalha teve o gosto de ver surgir um verdadeiro banquete.
A prisão estava cheia de prisioneiros, todos quase mortos de fome, de modo que o regalo foi grande. A negra, que trouxera a comida, abriu a boca, assombrada.
-- Minha senhora – foi correndo dizer à princesa – aquele preso de ontem tem uma toalha mágica, que basta abrir para virar um banquete.
A princesa ficou logo desejosa de possuir tal toalha e mandou a empregada saber do moço se queria vendê-la. O moço respondeu que teria muito gosto em dá-la de presente, com a condição de dormir uma noite na porta do quarto da princesa do lado de fora. A princesa danou com a resposta, que lhe pareceu um grande desaforo, mas por fim concordou.
No dia seguinte, quando a negra foi levar a couve aos presos, o moço recusou de novo, e abrindo a bolsa fez aparecer um banquete mágico, de que todos comeram até não poder mais. A negra foi correndo dizer à princesa: “Minha senhora, ele tem uma bolsa ainda mais mágica que a toalha. Aquilo é que é uma bolsa de princesa.”
A princesa mandou propor a compra da bolsa e o moço disse que lhe dava a bolsa de presente, com a condição de dormir na porta do seu quarto, mas do lado de dentro. A princesa danou, mas a negra achou que ela devia aceitar, pois que dormiria na cama e ele no chão duro. Fez-se o negócio e o moço dormiu no quarto da princesa do lado de dentro, perto da porta.
No dia seguinte a negra foi de novo levar a couve aos presos e viu o moço pegar na violinha e começar a tocar. E todos os presos puseram-se a dançar como se não tivessem fome nenhuma. E até a negra pegou fogo e pôs-se a dançar também. A festa durou tanto tempo que a princesa mandou chamar a negra.
-- Ah minha senhora, o tal moço tem uma violinha que é mesmo a maior das maravilhas. Aquilo é que é viola de princesa!
-- Pois vá saber dele se quer me vender a tal viola.
A negra foi e o moço respondeu que só daria a viola se a princesa se casasse com ele.
A princípio a princesa danou, mas depois resolveu aceitar a proposta e casou-se. Então todos os presos foram soltos e houve grandes festas.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Roda de Leitura Uma questão pessoal - Sessão final na Gerúndio Edições



Neste último sábado (23 de julho), depois de uma rápida interrupção para as férias, terminamos a leitura comentada de Uma questão pessoal, de Kenzaburo Oe.
Algo que enriqueceu bastante a discussão foi a experiência pessoal do Eugênio Asano, que esteve no Japão como dekassegui.

Próxima reunião: dia 20 de agosto, às 14h, na sede da Gerúndio
Próximo livro a ser discutido:
Quarto de despejo, de Maria Carolina de Jesus
O livreiro do Alemão, de Otávio Filho




Festival do Japão 2011 - Eu estive lá!!



Estive no sábado a tarde e gostei muito, fiquei impressionada com a grandiosidade do evento.
E isso porque apenas visitei os stands!
Quem sabe no ano que vem consigo ver as apresentações de odori e taikô!
O que senti falta foi a presença de editoras, como a JBC. Tenho certeza de que seria excelente ter editoras do segmento nikkei no Festival, tanto para nós, consumidores quanto para eles, produtores culturais.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Curso de Encadernação no SESC Belenzinho

Cortesia da super Miriam Palma, da Biblioteca Monteiro Lobato, que me avisou, agora repasso para vocês, caros leitores!!

 
TÉCNICAS DE ENCADERNAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE LIVROS

SESC Belenzinho
 
 
10/08 a 26/08.
Quarta e sexta, das 15h às 18h.
 
Aborda aspectos referentes à constituição e técnicas de feitura de um livro, além de apresentar a história do livro, da encadernação e tipos de papéis. Será realizada a confecção de um modelo de caixa de conservação e apresentadas 3 técnicas de encadernação: a estrutura cruzada e a costura em 8, muito utilizadas na conservação de livros e a costura copta, que é a costura mais antiga que existe e que influenciou toda a história do livro. Com Fernanda Brito. 

Duração: 6 encontros. Oficina 3. 15 vagas. 
Inscrições pessoalmente no dia 03/08 a partir das 14h, no 1º pavimento. 
Vagas remanescentes: inscrições a partir do dia 04/08, no local e também pelo e-mail: cursos@belenzinho.sescsp.org.br [sujeito à confirmação].

 Não recomendado para menores de 14 anos
 
Grátis

terça-feira, 5 de julho de 2011

Manacá da serra, na Avenida Monteiro Lobato, no Centro



Leitura em tempos de crise, com Michelle Petit, no SESC Pinheiros

Maravilhosa palestra da antropóloga francesa Michelle Petit (a esquerda), autora dos livros Os jovens e a leitura e A arte de ler, ambos da Editora 34



Leitura em tempos de crise
 com Michelle Petit (antrópologa) e Patrícia Pereira Leite (psicanalista)
05 de julho de 2011 – 3ª.feira – Teatro Paulo Autran – SESC Pinheiros – A partir de 13h
 
Segundo Michelle Petit, mediadores de leitura são os passeurs, os passadores, são aqueles que ajudam na travessia.
Atualmente, na França, há um discurso apocalíptico em todas as áreas e a leitura não é exceção.
A transmissão de conhecimento se faz no âmbito da vida.
Dois grandes assuntos:
1.       Para que serve a leitura? Qual é a importância da transmissão cultural?
2.      A importância dos mediadores
Jorge Luiz Borges (O fazedor Ragnarok)
- Criamos a esfinge no mito para lidar com nossos medos
- A Literatura nos constitui, é universal, é uma invenção poderosa e necessária para nossa sobrevivência psíquica
- Maurice Sendrak – No país dos monstros
- A narrativa existe desde o início da Humanidade
- Artistas são radares: sentem antes de saber
- A velocidade desta era demanda ainda mais narrativas
- Precisamos de histórias para a nossa saúde
- Cada um de nós recebe uma herança cultural (família, escola, etc.) que será articulada ao longo da vida
- Situação de crise – Situação de mudanças muito abruptas
- Crise é diferente de adversidade
Michelle: A importância da leitura
- Algumas crianças pensam na leitura como um caprico da escola o qual eles precisam se submeter
- A leitura tem sido abordada de forma muito pragmática por professores, bibliotecários e gestores públicos
- Um mau aluno pode ser um bom leitor?
- A leitura pode quebrar o determinismo social
- Adolescentes que diversificam suas leituras tornam-se bons alunos
- Uma boa leitura(familiaridade com a escrita) determina o sucesso na escola e no trabalho
- Para muitos adolescentes o discurso pró-leitura é vista como uma intrusão dos adultos
Patricia:
- A aprendizagem é um processo que tem desafios e angústias
Michelle:
- O discurso de pais e professores enfatiza o prazer de ler
- Além das necessidades escolares e profissionais, há a necessidade existencial
- O conceito de leitura precisa ser mais amplo do que a academia ensina
- Crise: Há uma crise de referência
- Dar sentido a sua própria vida (verdade interna, ser mais sujeito de sua própria história)
- A leitura é mais do que  a adequação à escola e ao mercado de trabalho, é mais do que o prazer
- A leitura é o espaço individual, é o habitat, é o lar, o asilo, o país, o refúgio
- Ler é abrir o próprio espaço, pois o ser demanda o seu próprio espaço
- A leitura é o espaço vasto, é o abrigo, é o esconderijo
- A leitura é a interioridade, é a criação de espaços de constituição de si mesmo, é o salto para outros lugares, é a casa emprestada num momento de crise
- Na biblioteca de Medellin há a experiência de leitura de contos para crianças e jovens da periferia da cidade: mesmo diante do barulho de tiros, as crianças e jovens queriam saber o final da história
- Todos os que vivem precisam do abrigo da cultura, que é a segunda pele da alma
- Na Patagônia há os Cafés literários e os ateliês (oficinas) de leitura e escrita: ler e escrever é entrar em contato e em acordo com o mundo
- A leitura é um tempo para si, em contraste com o tempo da TV, do videogame
- A leitura é um abrigo para se recompor (aí a Patricia cita que quando está muito estressada, ela lê um romance policial, em que ela mergulha e sai da leitura recomposta)
- Construção de afetos leva tempo, assim como a leitura
Abrigo das narrativas:
- Ajuda na saúde  psíquica
- Resgate de um tempo entre passado, presente e futuro
- Tempo particular da leitura (o tempo da leitura propriamente dita é diferente do tempo da lembrança do que foi lido)
- Ler serve para constituir uma reserva poética e selvagem, pequenos quartos onde narramos nossas histórias
- A leitura tem um efeito psíquico posterior ao ato da leitura
- Mais que um livro, é a lembrança do livro que conta
- Esquecemos da história para recriá-la
- Uma criança recompõe a leitura
- Nossa sede de palavras é tal que parece que ler serve para encontrar fora de si os capítulos difíceis de nossa história, a partir de uma escavação do inconsciente
- A leitura é uma exposição, é entrar em contato com um mundo muito maior do que eu
- A leitura é uma identificação com a imensidão
- Crise pessoal é um crescimento
- A leitura é uma transmissão de cultura: eu te apresento o mundo
- Literatura é exercitar a interioridade, é por a mente em movimento
- Oficinas de leitura e escrita na Colômbia: a literatura está mais próxima da vida do que da Academia
- Os escritorse levam tempo para dar sentido às situações da vida
- A leitura dá legibilidade à vida, é uma metáfora da própria vida
- A leitura desperta pensamentos, abre os olhos, sugere, desperta, inspira
- Uma experiência no interior de Minas Gerais mostra que a leitura da escrita faz a população relembrar-se de todo o seu repertório oral, como narrativas, receitas, etc.
- Nem sempre a leitura é sinônimo de ascensão social, mas sim do reencontro consigo.
- Leitura: meio de reavivar, é uma forma de viver mais poeticamente
- Mediação é trabalhar para construir pontes, é democratizar o ecletismo das práticas culturais
- Para mediar a leitura não basta ter talento e vocação, é preciso querer e esforçar-se para ser
- Mediação é um processo cujo resultado é imprevisto
- Não se atenha tanto nos bons resultados
Após a palestra de Michelle Petit e Patrícia Pereira Leite tivemos um intervalo com café e biscoitos
Na segunda parte tivemos o depoimento de duas jovens do grupo de mediação Fiandeiras, da favela Real Parque, o tempo para 
perguntas e considerações.
 

Contação de histórias de Debora Kikuti na Livraria Café e Cultura, em Guarulhos





Última aula da Oficina de formação de contadores de histórias no CME Adamastor Centro

A oficina foi ministrada por Thayame Porto, Adriana Teixeira e Edmilson